A crise alimentícia, a
mudança climática e uma possível pandemia de gripe aviária são as três grandes
"crises globais" que ameaçam a saúde de milhões de pessoas e a segurança do
planeta, segundo a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan.
"As três crises globais estão surgindo no horizonte. As três são ameaças à
segurança mundial", advertiu Chan em seu discurso de abertura da 61ª Assembléia
Mundial da Saúde, órgão executivo da OMS, na qual participam os máximos responsáveis
de saúde de seus 193 países-membros.
Chan lembrou que 3,5 milhões de pessoas morrem de desnutrição todos os anos, e que as
famílias pobres gastam entre 50% e 75% da renda com comida. "Mais dinheiro gasto com
alimentos significa menos disponível para saúde", destacou.
Como segunda grande ameaça, a diretora-geral da OMS se referiu à mudança climática,
que atingirá com mais força os mais pobres. "Mais secas, inundações e tempestades
tropicais significam mais necessidade de ajuda humanitária", destacou Chan, que
advertiu que a comunidade internacional terá que fazer frente a "um número
crescente de refugiados ambientais". "Os refugiados ambientais se transformarão
em uma nova onda de colonização, que provavelmente acirrarão as tensões
internacionais", disse.
Sobre a gripe aviária, advertiu que "não devemos descer a guarda" e que a
comunidade internacional deve seguir os preparativos para enfrentar uma eventual pandemia
"da mesma forma que com a mudança climática, pois todos os países serão afetados,
mas de uma forma mais rápida e devastadora".
Tragédias - Chan começou seu discurso expressando suas condolências e pesar pelas
duas recentes tragédias naturais na Ásia - a passagem do ciclone "Nargis" por
Mianmar e o terremoto na China, seu país natal - e disse que "infelizmente é
preciso estar preparado para mais crises humanitárias no futuro próximo e
imediato".
A diretora-geral da OMS afirmou que o setor da saúde pode colaborar e fazer frente às
três crises, mas que apenas com a gripe aviária é possível planejar políticas de
preparação e resposta. Por isso, pediu aos países-membros que apresentem "uma
frente unida" na Assembléia Mundial da Saúde no que se refere ao projeto de
resolução sobre troca dos tecidos do vírus H5N1.
Nos últimos anos, a Indonésia, o país com mais vítimas humanas de gripe aviária, se
negou a compartilhar as mostras se não tivesse garantias de acesso às possíveis vacinas
e outros benefícios. Chan advertiu que as três grandes crises globais também afetam
negativamente o cumprimento dos Objetivos do Milênio da ONU no que se refere à saúde.
Apesar de lembrar alguns progressos realizados na luta de doenças como a Aids, a
tuberculose e a malária, destacou um capítulo no qual disse que, em mais de duas
décadas de esforços, não houve avanços em mortalidade materna. "Encontro
pessoalmente esta falta de progresso vergonhosa. Por que a sociedade dá tão pouco valor
às mulheres, por que suas vidas são simplesmente esquecidas e descartáveis?"
A Assembléia Mundial da Saúde abordará, entre outros assuntos, os usos nocivos do
álcool e do tabaco. Sobre este último, Chan disse que "os impostos sobre o tabaco
são a mais poderosa medida de controle" e, por isso, "não é surpreendente que
a indústria tabaqueira resista a eles ferozmente". "Essa indústria diz há
muito tempo que a OMS é a sua maior inimiga. E estou contente, cada vez mais, de
fortalecer essa reputação", argumentou.
Outro ponto que será discutido na Assembléia Mundial da Saúde, que termina no sábado,
é o acesso aos remédios para os países pobres. Chan destacou que houve avanços nas
negociações sobre remédios e propriedade intelectual, e que já existe um projeto de
texto com 18 parágrafos sobre o qual não há consenso, frente aos 200 iniciais de dois
anos atrás.
Antes do discurso de Chan, Taiwan teve seu pedido para entrar na OMS como observador
rejeitado mais uma vez. A ilha pede seu ingresso desde 1997 e argumenta que se vê
excluída do sistema mundial de saúde. A ONU não reconhece Taiwan como Estado, por isso
seu pedido é sempre negado, e a China a considera como uma mera província rebelde.
Fonte: Estadão Online