A poluição tornou 70% das águas de rios,
lagos e lagoas do Brasil. É o que aponta relatório editado pela organização
não-governamental Defensoria da Água, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB).
A pesquisa, que traz dados do período 2004-2008, envolveu 423 pesquisadores, 830
monitores de campo e cerca de 1.500 voluntários, que identificaram 20.760 áreas de
contaminação em todo o país.
Em relação à primeira edição do documento, divulgado em 2004, a contaminação das
águas superficiais cresceu 280%. Nesse ritmo, se nada for feito, nos próximos quatro
anos 90% das águas estarão impróprias para o contato humano, sendo que atualmente mais
de 70% já é imprópria para o consumo, diz o texto.
"As principais causas da contaminação são atribuídas principalmente ao
agronegócio e à atividade industrial. Há uma falta generalizada de controle e de
fiscalização da geração, da destinação e do tratamento de resíduos, sejam eles
urbanos, de saúde ou residenciais", avalia o secretário-geral da Defensoria da
Água, Leonardo Morelli.
De acordo com o relatório da ONG, a mineração, a produção de suco de laranja e de
derivados da cana-de-açúcar são destaques negativos pelos problemas ambientais
provocados pelo descarte inadequado de resíduos industriais e pelas conseqüências
sociais ligadas aos empreendimentos, como exploração de mão-de-obra e avanço sobre
áreas indígenas.
O documento critica ainda a euforia com a produção de biodiesel, o que, segundo a ONG,
demonstra uma tendência para a economia agrícola, com empresas petrolíferas altamente
contaminadoras apropriando-se indevidamente do discurso do uso de elementos naturais que
na verdade mascaram as tentativas de sobrevida dos combustíveis fósseis.
O lançamento de esgotos diretamente nos rios e a exposição de resíduos em lixões
também são apontadas como causas do crescimento contínuo da poluição das águas,
principalmente em áreas urbanas.
A existência de lixões continua sendo uma realidade irrefutável em mais de 4,7 mil
municípios sendo que a deposição de resíduos sem controle ou proteção continua
ocorrendo nas margens de cursos de água e proximidades de nascentes, relata o texto.
Um agravante, segundo a ONG, é que menos de 3% dos lixões enquadram-se na categoria de
aterros controlados, por exemplo. Além disso, o país conta com cerca de 20 aterros
devidamente licenciado e com capacidade para receber lixo hospitalar infectante. De acordo
com o relatório, as 20.760 áreas de contaminação mapeadas pelos pesquisadores afetam
diretamente cinco milhões de pessoas, além de outras 15 milhões de vítimas de impactos
indiretos.
JB Online