A preservação da Amazônia pode evitar
eventos climáticos extremos no centro-sul do Brasil, por causa do papel da floresta na
manutenção do equilíbrio do clima na América Latina. De acordo com o pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), Antonio Nobre, a floresta tem papel fundamental no equilíbrio do
sistema hidrológico da região.
No funcionamento do clima na América do Sul, a Amazônia tem um papel muito grande
na exportação de umidade, por meio da atmosfera, dos ventos. As nuvens saem da Amazônia
para irrigar as regiões no centro-sul da América Latina: Centro-Oeste e Sudeste do
Brasil, norte da Argentina. Toda essa região depende das águas que vêm da Amazônia,
apontou Nobre em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia.
De acordo com dados do pesquisador, por dia, a Amazônia chega a jogar na atmosfera 20
bilhões de toneladas de água em forma de vapor.
O bom funcionamento desse sistema de regulação do regime de chuvas depende da
manutenção da floresta em pé, sem desmatamentos, segundo Nobre. O que está em
curso hoje ameaça gravemente o funcionamento dessa máquina gigantesca, avaliou.
O cientista compara o desmate da Amazônia à retirada de partes do fígado de uma pessoa
que ingere muito álcool e depende do bom funcionamento do órgão para se recuperar dos
excessos. A floresta amazônica é como um fígado gigantesco, uma bomba, um
pulmão. As árvores têm um papel muito importante no funcionamento da atmosfera, do
transporte de água, do clima. E o que estamos fazendo é como cortar um pedaço do
fígado, que passa a ter muito menos capacidade de lidar com os abusos, que nesse caso
são o aquecimento global e todas as agressões que são decorrentes da atividade humana
na Terra, explicou.
Segundo Nobre, apesar de não ser possível traçar precisamente uma relação direta
entre o desmatamento da floresta e as recentes chuvas que atingiram Santa Catarina, por
exemplo, a ocorrência de eventos climáticos extremos como esse está relacionada a um
desequilíbrio ambiental, que pode ser evitado.
O que a Amazônia provê não são apenas serviços (ambientais) para o cinturão
agrícola, para as hidrelétricas, para a atividade industrial; o que a Amazônia provê
é um sistema de estabilização climática que consegue manter a região toda em
equilíbrio. Não se tem nem excesso de água nem falta. E também impede que ocorram
secas prolongadas, que criariam os desertos, acrescentou.
Nobre defende que, mesmo diante de incertezas científicas, há fatos suficientes para
justificar a demanda urgente pela preservação. O que a ciência já sabe é mais
do que suficiente para comprar várias apólices de seguro. E o seguro se chama proteger a
floresta. Estamos destruindo o sistema hidrológico e o clima da América do Sul,
alertou.
Fonte: Luana Lourenço/ Agência Brasil